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quarta-feira, 23 de março de 2011

VALOROSO EXÉRCITO DA AMAZÔNIA

A FORÇA DOS MILITARES NA AMAZÔNIA


Uma visão isenta da ação dos militares na Amazônia.

DRAUZIO VARELLA





Perfilados, os soldados aguardaram em posição de sentido, sob o sol do

meio-dia. Eram homens de estatura mediana, pele bronzeada, olhos amendoados,

maçãs do rosto salientes e cabelo espetado.O observador desavisado que lhes

analisasse os traços julgaria estar na Ásia.

No microfone, a palavra de ordem do capitão: 'Soldado Souza, etnia tucano'.

Um rapaz da primeira fila deu um passo adiante, resoluto, com o fuzil no

ombro, e iniciou a oração do guerreiro da selva, no idioma natal. No fim, o

grito de guerra dos pelotões da fronteira: "SELVA !!!"



O segundo a repetir o texto foi um soldado da etnia desana, seguido de um

baniua, um curipaco, um cubeu, um ianomâmi, um tariano e um hupda.



Todos repetiram o ritual do passo à frente e da oração nas línguas de seus

povos; em comum, apenas o grito final: "SELVA !!!"



Depois, o pelotão inteiro cantou o hino nacional em português, a plenos

pulmões.



Ouvir aquela diversidade de indígenas, característica das 22 etnias que

habitam o extremo noroeste da Amazônia brasileira há 2.000 anos, cantando

nosso hino no meio da floresta, trouxe à flor da pele sentimentos de

brasilidade que eu julgava esquecidos.



Para chegar à Cabeça do Cachorro é preciso ir a Manaus, viajar 1.146

quilômetros Rio Negro acima, até avistar São Gabriel da Cachoeira, a maior

cidade indígena do país.



De lá, até as fronteiras com a Colômbia e a Venezuela, pelos rios Uaupés,

Tiquié, Içana, Cauaburi e uma infinidade de rios menores, só Deus sabe.

A duração da viagem depende das chuvas, das corredeiras e da época do ano,

porque na bacia do Rio Negro o nível das águas pode subir mais de dez metros

entre a vazante e o pico da cheia.



É um Brasil perdido no meio das florestas mais preservadas da Amazônia. Não

fosse a presença militar, seria uma região entregue à própria sorte. Ou,

pior, à sorte alheia.



O Comando dos Pelotões de Fronteira está sediado em São Gabriel. De lá

partem as provisões e o apoio logístico para as unidades construídas à beira

dos principais rios fronteiriços: Pari-Cachoeira, Iauaretê, Querari,

Tunuí-Cachoeira, São Joaquim, Maturacá e Cucuí.



Anteriormente formado por militares de outros estados, os pelotões hoje

recrutam soldados nas comunidades das redondezas. Essa opção foi feita por

razões profissionais: 'O soldado do sul pode ser mais preparado

intelectualmente, mas na selva ninguém se iguala ao indígena'.



Na entrada dos quartéis, uma placa dá idéia do esforço para construí-los

naquele ermo: 'Da primeira tábua ao último prego, todo material empregado

nessas instalações foi transportado nas asas da FAB'.



Os pelotões atraíram as populações indígenas de cada rio à beira do qual

foram instalados: por causa da escola para as crianças e porque em suas

imediações circula o bem mais raro da região: salário.



Para os militares e suas famílias, os indígenas conseguem vender algum

artesanato, trocar farinha e frutas por gêneros de primeira necessidade,

produtos de higiene e peças de vestuário.

No quartel existe possibilidade de acesso à assistência médica, ao dentista,

à internet e aos aviões da FAB, em caso de acidente ou doença grave.



Cada pelotão é chefiado por um tenente com menos de 30 anos, obrigado a

exercer o papel de comandante militar, prefeito, juiz de paz, delegado,

gestor de assistência médico-odontológica,

administrador do programa de inclusão digital e o que mais for necessário

assumir nas comunidades das imediações, esquecidas pelas autoridades

federais, estaduais e municipais.



Tais serviços, de responsabilidade de ministérios e secretarias locais, são

prestados pelas Forças Armadas sem qualquer dotação orçamentária

suplementar.



Os quartéis são de um despojamento espartano. As dificuldades de

abastecimento, os atrasos dos vôos causados por adversidades climáticas e

avarias técnicas e o orçamento minguado das Forças Armadas tornam o

dia-a-dia dos que vivem em pleno isolamento um ato de resistência

permanente.



Esses militares anônimos, mal pagos, são os únicos responsáveis pela defesa

dos limites de uma região conturbada pela proximidade das Farc e pelas rotas

do narcotráfico. Não estivessem lá, quem estaria?

"SELVA !!!"

Lema do soldado da Amazônia:

"Senhor, tu que ordenastes ao guerreiro de Selva, sobrepujai todos os vossos

oponentes, dai-nos hoje da floresta, a sobriedade para resistir, a paciência

para emboscar, a perseverança para sobreviver, a astúcia para dissimular, a

fé para resistir e vencer, e daí-nos também senhor a esperança e a certeza

do retorno, mas , se, defendendo essa brasileira Amazônia, tivermos que

perecer, oh Deus, que façamos com dignidade e mereçamos a vitória, Selva!!!"